terça-feira, 15 de julho de 2014

ganchos

sempre que uso ganchos no cabelo, viajo até à escola preparatória, altura particularmente complicada da minha vida. Talvez seja por isso que os uso tão raramente... Hoje trouxe dois gachinhos a prender-me o cabelo, lateralmente, e de cada vez que me olho ao espelho vejo aquela menina escanzelada, de pernas e braços desproporcionalmente compridos, sem mamas, com um ganchinho a prender a franja acima da testa, ao centro (lembras-te semi-nómada? eu sei que sim, pois foi precisamente por essa altura que nos conhecemos! foi também a preparatória que trouxe a macaca bzana à minha vida e só por isso já teria valido a pena). Vejo a menina (um bocadinho marrona, há que dizê-lo com frontalidade) que saiu de uma escola primária modelo/exemplar (de uma bolha cor de rosa, portanto) e que aterrou sozinha numa turma de "vândalos" de um bairro social problemático e que entre problemas típicos da pré-adolescência (quem é que não se lembra dos apalpões no recreio!!!??) ainda teve que lidar com a morte do avô materno (que era quem a levava todos os dias à escola) e o início da doença (grave) e dos sucessivos internamentos do pai. A mesma menina que não só sobreviveu, como cresceu e fez amigos (e desenvolveu alguns tiques nervoso também, que entretanto ficaram pelo caminho) nesses dois anos que foram uma espécie de "estufa" para a vida real.

É curioso (metafórico? irónico?) que sejam os ganchos este meu passaporte para o passado. Não estou, de todo, presa ao passado... Mas haverá sempre ganchos a agarrarem algumas pontas soltas, no cabelo e na vida...

1 comentário:

Anónimo disse...

Lembro-me tão bem de ti com o ganchinho a prender a franja... Acho que está na altura de criares memórias felizes com ganchinhos ;-) (não sei se dá perceber, mas li vários posts de seguida e de cima para baixo) Beijo grande