Na escuridão do quarto dele, enquanto espero que a sua respiração fique cada vez mais pesada e cadenciada e adormeça por fim, lembro-me muitas vezes de ti avó. De quando teimava em aninhar-me no teu colo mesmo quando já era bem maior do que tu (também não era difícil) , de como me dizias que tinha mãos de habilidosa e das tuas mãos, treinadas e pacientes, a ensinarem-me crochet. Das histórias que me contavas sobre a vida de trabalho no campo, sobre a infância do meu pai no monte – “um dia vou escrevê-las, num livro quem sabe”, digo tantas vezes -, dos provérbios, tantos que sabias de cor e aplicavas nas mais diversas situações. Mas a lembrança mais forte, avó, é a da terra que te viu nascer e ao meu pai, a terra que inconscientemente me ensinaste a amar e que um dia eu gostava que o meu filho também amasse desmesuradamente (como se houvesse outra qualquer forma de amar…). Mesmo que quisesse não poderia esquecê-la, porque trago colado à pele o calor do sol das tardes de Verão, o cheiro da seara e das silvas recheadas de amoras maduras, o canto dos grilos e o voo rasante dos morcegos nas noites abrasadoras passadas à soleira da porta. Fecho os olhos e consigo sentir o sabor dos figos e dos abrunhos apanhados à beira da estrada e ouço a tua voz, avó, as tuas palavras e os teus gestos, a ensinarem-me que a vida só vale a pena se pusermos amor em tudo aquilo que fazemos
3 comentários:
<3 :')
Que lindo minha amiga...
Love u!
E é isso que também aprendi com a minha avó: que a vida só vale a pena se pusermos amor em tudo o que fazemos!
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