terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Um dia falo sobre saúde sexual e reprodutiva no blog. Hoje é o dia.



Em primeiro lugar, porque me apetece. Depois, porque neste blog não há temas-tabu.



Começo por esclarecer que este post NÃO É um post publicitário, NEM TÃO-POUCO É um ensaio científico baseado em evidência sobre a temática em questão. Diz somente respeito à minha experiência pessoal e à opinião que tenho atualmente sobre estas coisas da contraceção e afins. Assim sendo, é apenas uma tentativa de desconstruir ideias pré-definidas, discutir conceitos que damos como adquiridos e, se estimular em quem o ler, uma fome de informação, já cumpriu 99,9% do seu propósito.



É que em questões de saúde (como em muitas outras) informação é poder! Não esperem que os médicos vos informem, porque essa não é a função deles. Estes profissionais estão formatados para tratar/curar/resolver e balizados por apertados (e obviamente necessários!) protocolos de atuação que os impedem de ter uma prática clínica mais individualizada. Acredito que muitos se sintam frustrados com este sistema, mas o facto de estarem conscientes disso já é um chega-pra-lá no paternalismo que ainda tende a grassar na classe (cada vez menor, thanks god!). Isto para dizer que cabe a cada um de nós fazer as perguntas certas, procurar informação em fontes credíveis… É nisto que reside o tão desejável empoderamento de cada um de nós, enquanto cidadãos. No caso da saúde, com ganhos adicionais no nosso status de saúde e na nossa qualidade de vida.



Mas voltemos ao tema sobre o qual hoje me debruço: planeamento familiar, contraceção, saúde sexual e reprodutiva. Se há tema importante para o bem-estar emocional e físico de uma mulher é este, minha gente!

Mesmo entre amigas, falamos de tanta coisa (roupas, gajos, relações), mas nunca abordamos estas questões a fundo. À maior parte de nós foi-nos “oferecida” uma pílula ali pelos finais da adolescência, altura em que visitamos pela primeira vez o ginecologista e tendemos a iniciar a vida sexual. Nem nos questionamos sobre o porquê ou acerca de eventuais alternativas. É assim porque sim! Foi assim comigo. Até ao dia em que parei de tomar a pílula, quase 10 anos após ter começado. Motivo: querer ter filhos. Tão simplesmente isto. E foi aí que começaram todos os porquês.



“Então mas a libido afinal é isto?”, “Ui, que eu nunca tinha sentido isto antes… e que bem que sabe”, “Até tenho algumas dores da ovulação, mas ao menos já me aturo a mim mesma e livrei-me daquelas alterações de humor completamente intoleráveis”. Pois é minhas amigas (e amigos, se é que ainda me estão a ler, que este post não é só para meninas!), é triste ter vivido toda uma vida até aos 30 sem noção de como se comporta e é suposto naturalmente comportar o meu próprio corpo (sem hormonas)”. Percebi, com uma clareza por demais evidente, que sou uma pessoa com pílula e outra diferente sem pílula. “Domesticada” é a palavra que melhor descreve como me sinto.



Ontem – depois de mais cinco anos a tomar a pílula e a maldizer a minha vida sobretudo devido à falta de lbido e ao humor descontrolado aos altos e baixos (há inclusivamente estudos que relacionam a toma da pílula à depressão), de uma segunda gravidez e de uns quantos meses passados novamente “domesticada” – pus um ponto final nesta minha história com a contraceção hormonal oral (pelo menos para já, que nestas coisas nem NUNCA, nem SEMPRE!). Depois de me informar com diferentes profissionais, conversar com amigas, ler sobre as diferentes alternativas e colocar as questões certas à minha ginecologista/obstetra, decidi (Eu! Não a médica! A isto se chama decisão informada!) colocar um dispositivo intrauterino (DIU) de cobre (que é um método barreira, ou seja, não hormonal). Claro que, à semelhança de qualquer método contracetivo, o DIU de cobre não é isento de efeitos adversos, sendo que o mais comum é o aumento das hemorragias menstruais, segundo a médica. Vamos ver como corre… Posso garantir que, no meu caso – volto a frisar que esta é a minha experiência pessoal! –, não senti a mínima dor ou desconforto na colocação (e olhem que ia cheiinha de medo!). Quanto a efeitos adversos, espero para ver, tendo sempre em mente o comentário da médica ontem na consulta, aquando da colocação do DIU: “daqui a uns tempos está cá para tirar esse e por o Mirena®”.



Isto porque a médica acha que os fluxos menstruais anormalmente abundantes (que até podem não vir a acontecer) terão impacto na minha qualidade de vida. A título de esclarecimento, o Mirena® é um DIU hormonal que equivale à pílula da amamentação (Cerazette®), pelo que inibe a ovulação e a menstruação. Tem como efeito secundário mais comum o inchaço abdominal, mas os efeitos habitualmente associados à contraceção hormonal oral são muito menores devido à via de administração (o que também acontece com o anel e o adesivo, ambos hormonais).



Nota: A colocação do DIU não está indicada para quem nunca esteve grávida, pariu ou foi mãe. O único método barreira, nesse caso, continua a ser o preservativo (masculino ou feminino).



Espero que esta minha partilha (reafirmo, PESSOAL!) vos inspire a “empoderarem-se” neste ou noutro sentido, aliás, no sentido que fizer mais sentido (passo o pleonasmo) para vós!

Eu consegui que uma ginecologista/obstetra me dissesse, com todas as letras, que na fase da vida em que me encontro as hormonas associadas à contraceção não me conferem qualquer benefício em termos de saúde. Acreditem que isto é revolucionário! Para mim, já é uma vitória (embora isto não seja uma guerra, atenção!). Mas, acredito que é assim que se mudam mentalidades e se vão desconstruindo “verdades” instituídas!



Sejam responsáveis por vocês, porque mais ninguém o vai ser. Informem-se. Conversem. Partilhem. Cuidem-se. Porque (ainda!) somos nós que mandamos no nosso corpo.

(o marketing e imagem do DIU ultrapassa-me, confesso... não consigo decidir se é bom ou se é mau)

5 comentários:

Cátia Santos disse...

👏uma valente salva de palmas!!!

Goldfish disse...

É curioso, eu não senti diferença alguma nos largos meses que passei sem pílula. Nada. Nem mais libido, nem maior fluxo, nem um estado de espírito diferente. No entanto já ponderei pôr o DIU porque quanto menos droga cá pusermos dentro, melhor! Nunca aprofundei o assunto, no entanto, e acabo de vir da ginecologista, desta não foi. Mas obrigada pela partilha, espevitaste-me a curiosidade!

macaca grava-por-cima disse...

obrigada Cátia! um pouco de "serviço público", vale o que vale...

Goldfish, lá está... isto é uma questão super individual. ainda bem que as hormonas não te causam mossa, acredita que é muito desconfortável sentires que estás "domesticada". Mas é isso que dizes... tb sou pelo "qt menos drogas melhor" lol

Melancia disse...

Ora então aqui seguem as minhas duas visões:
-A de Ana médica- pois estás profundamente errada se achas que não faz parte da nossa função informar e ajudar/orientar em qualquer decisão. A minha formação base tem pouco mais de 10 anos e sempre nos foi incutida essa obrigação. A minha formação específica (medicina geral e familiar) tem uns 6/7 anos e essa necessidade de informar e esclarecer foi sempre muito batalhada. Quanto mais não seja para nossa protecção, porque, como sabes, a medicina está longe de ser infalível, mesmo quando se cumprem todos os protocolos e mais alguns.
- A de Ana mulher- pois bem, também levei com pílula durante uns 10 anos, altura em que resolvi ter o primeiro filho e, a partir daí NUNCA MAIS. Coloquei também o DIU de cobre e, apesar de ter fluxos abundantes, não tenho absolutamente mais nada, nadinha de nada. Não tenho uma cólica, uma dor menstrual e sim, a líbido é outra. Infelizmente, o mau humor pré menstrual ainda aparece porque, não tendo as hormonas do comprimido, ainda tenho as minhas!!

macaca grava-por-cima disse...

Querida Melancia, eu sabia que ia ter o teu contributo para esta discussão. Adoro um bom contraditório!!!
Também podia dar a minha visão de macaca que trabalha a área da saúde e macaca utente/cidadã, mas resolvi fazer um mix de ambas. LOL
Fico feliz de a formação médica pré e pós graduada contemplar cada vez mais o módulo comunicação com o doente e o dever de consentimento informado/informação para a decisão partilhada. Não quis, de todo, atacar a classe, a crítica é até mais para o lado do utente, que também tem a obrigação de se informar. Sou uma lutadora acérrima pela literacia em Saúde e estou consciente que esta é uma cruzada que os utentes não podem fazer sozinhos, tem que envolver todos os atores.

Espero (rezo) para que a minha história pessoal seja semelhante à tua, para me dar bem com o DIU e "só" ter que levar com as minhas hormonas ;)

Obrigada pelo comment, pela partilha. por estares aí.