há coisas para as quais não temos palavras. Os estados de alma são dessas coisas. Por isso há tanto que fica por dizer, mesmo aqui, ao abrigo de um semi-anonimato que ajuda a esse exercício catártico que dá pelo nome de escrita. Hoje não está a ser um dia fácil. Penso que o sol se foi e que este País ficou ainda mais deprimente, mais triste... Ao almoçar sozinha num centro comercial, observo uma avó (à antiga) a dar a sopa à neta (que não deve ter mais de quatro anos). A sopa está num termo vermelho daqueles em que as nossas avós guardavam a sopa. Não é de design retro, é mesmo antigo, como aquela avó... Até a menina não parece deste tempo, nenhuma daquelas personagens pertence à confusão de tabuleiros e fast-food que as rodeia. Ou se calhar o que as rodeia é que já está fora de tempo. Não sei... Só sei que a única coisa que me apetece naquele momento é abraçar o meu filho e dormir a sesta agarradinha a ele. Impossível. Doloroso. Frustrante. Ridiculously short, o tempo que nós, mães, temos para dedicar aos filhos... Fecho os olhos e imagino o nosso serão de logo, em que vamos acabar de jantar e o Manel vai começar a dançar ao som da música imaginária do genérico da Ovelha Choné (a abanar os braços no ar) como forma de exprimir a sua vontade. Vamos sentar-nos em frente à TV e ver um dos muitos episódios que o pai grava propositadamente para ele. Vamos quiçá ter tempo ainda para ler uma estória, folhear um livro, construir uma torre... Ter tempo para ser felizes. Porque no final é isso que importa, construir memórias felizes.
4 comentários:
Sim, é mesmo o que importa. É preciso ter essa vontade/capacidade de agarrar o que é genuinamente bom, em qualquer circunstância, para compensar o cinzento que nos chega lá de fora.
Macaca, a maravilha da vida é isso mesmo, que quando vês as gémeas da casa dos segredos ou a avó do termo vermelho e antigo, pensas e sentes. E isso é muito bom! o pensar pode depois levar a outras conclusões, menos interessantes... mas sentes qq coisa, quando 95% das pessoas andam alienadas do mundo. é bom teres o teu filho, o teu ninho, o teu mundo, onde cabem todos os sonhos do mundo. força nesses almoços!! bjs
Que bom poder, ainda assim, apesar de tudo, viver esses momentos, e saber que eles são os mais importantes. É bom quando temos a noção de que estamos a viver um momento feliz, mesmo que escondido na banalidade e dificuldade dos dias.
São estes os momentos de felicidade
Beijinho
Dizem que o tempo é relativo, que o que importa é o uso que lhe damos, que o que vale é a sua qualidade... Pois pode ser, mas um bocadinho mais de quantidade nunca fez mal a ninguém!
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