Se há coisa que tenho aprendido nos últimos tempos é que tudo na vida é relativo. E provavelmente não só na vida, mas isso são outros voos.
Um exemplo flagrante são as despedidas nos aeroportos. Nos primeiros tempos da minha vida de emigrante não havia uma santa de uma única vez que não me desmanchasse a chorar no momento final. Por momento final entendo o momento entre o check in e a passagem pelo controlo dos passaportes/ cartões de embarque, aqueles minutos em que se torna óbvio que a probabilidade de acontecer algo que nos impeça (oh que chatice) de embarcar é realmente mínima. E é ali que tudo acontece. As trocas de olhares comprometidos, as piadinhas muito pouco conseguidas, os "vá, vai lá embora que já nao te posso ver", que depois dão lugar ao "liga quando chegares a dizer que está tudo bem, fico preocupada", que acabam num abraço apertado e no nó da garganta que finalmente se desata nas lágrimas que já sabiamos que eram inevitáveis. Segue-se a vergonha, o medo que alguém conhecido esteja a ver, a consciência de que já deviamos ter deixado estas cenas há uns tempinhos. Respirar fundo, limpar a cara, passa o controlo, sobe as escadas rolantes e não olhes para trás, já sabes.
E de repente, tudo passou. Ali, naquele preciso ponto onde acabam as escadas rolantes e começam as luzes das lojas já não há nó, já não há desespero e tudo é muito mais fácil. A minha teoria é que aquela quantidade de estímulos visuais é dificil o nosso organismo arranjar capacidade para mais qualquer tipo de reacção... Está tudo pensado e foi o Governo de certeza.
E depois há o outro lado... Não o das chegadas, mas o lado de quem fica. Que também se aprende a relativizar, mas que deixa um outro tipo de vazio mais triste.
Ultimamente tornaram-se os dois mais fáceis, acho que se aprende a relativizar. Agora as coisas são diferentes, o destino que é a nova "casa" já não é tao agreste, as estadias no "cantinho" nunca são tão longas que permitam habituar-me ao bem bom e acho que se interioriza finalmente que há coisas que não se perde de vista com as distâncias físicas... E depois os reencontros, a ânsia de contar tudo, de em segundos sentir outra vez que está lá tudo. Boooom.
Lisboa - Bruxelas - Lisboa, Lisboa - Luanda - Lisboa... Que todos os bilhetes sejam de ida e volta.
8 comentários:
Eu vivo a experiência do lado de quem fica, que também não é nada fácil... antes pelo contrário! O nó na garganta, o coração a palpitar e sempre com a esperança que o tempo passe muito rápido até que chegue o dia de entrar pelas "Chegadas" do aeroporto.
Seja como for... ida e volta... é preciso é aguentar as saudades...
Eu, há uns meses, vivi a experiência dos que vão...e por uns meses... Garanto-te, Macaca, que o nó na garganta me acompanhou para além das escadas rolantes! O dito nó entrou comigo no avião e fez uma boa parte da viagem comigo, até eu começar a pensar onde iria aterrar e o que iria acontecer na minha vida!
As despedidas chorosas fazem parte! Mas ainda bem que, à semelhança da sala de fumadores, não fizeram uma sala de choro...
LOL... Uma sala de choro... Isso havia de ser uma coisa gira... Aguenta e não chora andrezito!!! Se bem que concordo contigo, às vezes as despedidas chorosas fazem mesmo parte... e esse nó é um sintoma daquilo que realmente importa na nossa vida! Se não houvesse esse nó, é pq não teríamos coisas que amamos, pelas quais sentimos saudades...
Há algo de que os meus amiguinhos migras não se livram: chama-se Síndrome de Ulisses e afecta as pessoas que vivem fora da sua pátria.
Nada que uns miminhos no regresso (ou numa visita ao país de acolhimento) não resolvam!!!
Beijos para todos os amigos migras
E mais um nó na garganta ao ler este post que me recorda tantos desses momentos nas escadas do Aeroporto de Lisboa.
Há uma coisa que não é relativa: o prazer e a felicidade que sentimos quando olhamos para a porta das chegadas e sai de lá uma irmãzinha mais nova de quem gostamos muito e de quem sentimos muito a falta!!
e partir sozinho e não ter ninguém à espera à chegada? acreditem que é uma experiência que vale a pena.
:)
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