quarta-feira, 2 de maio de 2007

De (in)sustentável autenticidade...

Desenho, Vladimir Velickovic.


Há um elo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Evoquemos uma situação extremamente banal: um homem caminha na rua. De repente, quer lembrar-se de qualquer coisa, mas a lembrança escapa-lhe. Nesse momento, maquinalmente, o homem atrasa o passo. Pelo contrário, alguém que queira esquecer um incidente penoso que acaba de viver acelera sem dar por isso o ritmo da sua marcha como se quisesse afastar-se depressa do que, no tempo, lhe está ainda demasiado perto. Na matemática existencial, esta experiência assume a forma de duas equações elementares: o grau da lentidão é directamente proporcional à intensidade da memória; o grau da velocidade é directamente proporcional à intensidade do esquecimento.

Milan Kundera, in A lentidão (1995)

4 comentários:

macaca disse...

Por isso é que há alturas em que sabe tão bem estar cheio de trabalho...

André disse...

...e os maratonistas têm memória fraca?...e os sprinters?

Anónimo disse...

Mas... É para andar depressa ou devagar? A malta é solidária!!! Só precisa de saber a que passo deve ir!

macaca grava-por-cima disse...

Querida directora T., o ritmo é aquele que o teu corpo e a tua mente ditarem... (isto agora parecia uma daquelas respostas do correio sentimental da Dra. Ruth... LOL)