segunda-feira, 19 de março de 2007

A Passagem das Horas

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(...)
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz."
Álvaro de Campos

Os macaquinhos dos últimos dias andam à volta de partidas e chegadas. Fazer as malas e ir, muitas das vezes sem saber para o quê. Geralmente sabemos porquê, o resto é um enorme vazio. África, Europa, América, Ásia, conhecido, desconhecido, conhecido que agora é desconhecido. Raio de confusão.
A balança: o que tenho, o que não tenho mas quero e onde o procurar sem ir parar onde menos quero? O peso, as dúvidas, o medo e no outro prato da balança (aos pulinhos para enganar o peso) a adrenalina, a vida, a sede.
Cada vez que vejo alguém a avançar para uma aventura nova fico presa entre a saudade e a inveja. Quero conhecer o mundo inteiro, viver todas as emoções, aprender, ensinar, bater com a cabeça se for preciso para perceber que sou capaz de continuar mais forte. Quero ser capaz de transportar dentro de mim tudo, para todo o lado. Sentir-me "cheia" se tiver de atravessar um deserto sozinha. Onde está isso tudo?

6 comentários:

Unknown disse...

Como disse a Grava-Por-Cima, é enquanto pensamos demasiado que as coisas vão acontecendo. Mas, pior que isso, é que vão acontecendo...aos outros! Mas a culpa não será nossa? Por não estarmos receptivos às oportunidades quando elas aparecem? Por sermos guiados por "livros de instruções" elaborados sabe-se lá por quem? Quem disse que temos que ser todos iguais????

macaca grava-por-cima disse...

Isso tudo está na vontade que tens dentro de ti...

André disse...

O primeiro passo é o mais dificil....depois, quase nunca há arrependimento!!

macaca disse...

Este foi um bocadinho para ti. Ficamos a torcer por ti e cheios de vontade de ouvir as aventuras do escalemba.Não vacila. Não vacila. Não vacila.

macaca bzana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
macaca bzana disse...

Admiro quem vai e admiro quem fica! A verdade é que se trata de uma decisão muito pessoal...
Dão-nos as asas para voar mas só nós saberemos se queremos levantar voo.
Coragem para os que vão...Força para os que ficam!
O importante é viver o dia-a-dia com um sorriso nos lábios, guardar recordações e alimentar o elo que nos liga aos outros...
A partir daqui, toda a nossa existência é um mar de decisões, indecisões, desafios e aventura!
Poli, Poli...
A vida é demasiado curta, para quê complicá-la?!